quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Rua ilha

O cachorro toma sol na entrada da cozinha. Como uma fatia de queijo minas e penso na roupa pendurada no varal.  Saio para um passeio, tropeço duas vezes: uma no ar, outra em uma pedra pequena.
Sorrio para um grupo de senhoras sentadas nas soleiras de suas portas,fumando cigarros. Elas falam de tempos antiquíssimos, e isso me deixa triste. Mas só um pouquinho. 
Comprimento um senhor rechonchudo, que aparentemente é muito bom em jogos de cartas. Ele tem um bigode grisalho e nada de especial. Seu boné está torto para a direita. 
Vejo um sabiá na ponta de um galho. 
Vejo portões quietos.
Parece tudo em paz na rua Guiará. 
Parece que dessa vez nenhum pai ficará zangado, nenhuma planta irá morrer seca. Talvez hoje nenhum cão fuja de casa, ninguém machucará o dedo na porta. Nenhum almoço vai queimar. Um homem desistirá de colecionar pardais. Moças colocarão novos quadros nas paredes,quadros frescos. 
As correspondências não vão atrasar hoje, não na rua Guiará. 
Hoje está tudo em paz neste pedaço do Brasil.
Uma ilha no meio do oceano.


Nenhum comentário:

Postar um comentário