terça-feira, 22 de outubro de 2013

mau contato

Meus objetivos no dia:

ler aquele livro, aquele mesmo, velho e mortalmente chato.
fazer aquele feijão perfeito e impossivel.
ensinar meu cachorro a parar de puxar tanto a guia da coleira.
ser agradável para os vizinhos,e para os não-vizinhos.
lembrar dos óculos, e parar de ver tudo sempre tão embaçado.
comer mais frutas,mais mangas.
ajeitar algum cabo,
sempre tem alguma coisa com mau contato na vida.

eu sou tão calma, que poderia ser uma árvore.
uma árvore em outono.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Rua ilha

O cachorro toma sol na entrada da cozinha. Como uma fatia de queijo minas e penso na roupa pendurada no varal.  Saio para um passeio, tropeço duas vezes: uma no ar, outra em uma pedra pequena.
Sorrio para um grupo de senhoras sentadas nas soleiras de suas portas,fumando cigarros. Elas falam de tempos antiquíssimos, e isso me deixa triste. Mas só um pouquinho. 
Comprimento um senhor rechonchudo, que aparentemente é muito bom em jogos de cartas. Ele tem um bigode grisalho e nada de especial. Seu boné está torto para a direita. 
Vejo um sabiá na ponta de um galho. 
Vejo portões quietos.
Parece tudo em paz na rua Guiará. 
Parece que dessa vez nenhum pai ficará zangado, nenhuma planta irá morrer seca. Talvez hoje nenhum cão fuja de casa, ninguém machucará o dedo na porta. Nenhum almoço vai queimar. Um homem desistirá de colecionar pardais. Moças colocarão novos quadros nas paredes,quadros frescos. 
As correspondências não vão atrasar hoje, não na rua Guiará. 
Hoje está tudo em paz neste pedaço do Brasil.
Uma ilha no meio do oceano.


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Temporal de Minas

Fez sol, um tímido Sol.
Que agora vai-se embora, mais pelas nuvens do que pelo horário.
Ouvi dizer que esse temporal que fazia aqui em São Paulo, está agora indo para o sul de Minas Gerais.
Que inveja desse temporal.

Imagine se eu fosse um temporal, com altíssima possibilidade de me granizar, fazendo barulho nas calhas,  lascando vidros dos carros lá no sul de Minas.
As estradas convertidas em grossos lamaçais, as cachoeiras revoltas impossíveis para nado, a mata em banho frio.
Festa de sapos, indolência dos trabalhadores, o tédio das crianças a zanzarem pela casa.
Mas como temporal, tudo isso me seria doce,meu objetivo em  molhar o sul de Minas seria doce,pois é como os temporais abraçam terras que lhe são queridas.

Como sou gente, e não temporal, meus braços são curtos e não posso abraçar tudo isso...tudo isso que é tão delicado...não posso abraçar o tédio das crianças.
Quem sabe em outra vida possa ser pelo menos uma garoinha boba, que vem e vai embora antes mesmo da tarde acabar, assim a meninada pode se alvoroçar na lama sem muita espera.
Vocês sabem que o tempo das crianças é diferente...não sabem?