quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Culture

Aguardo ansiosamente a chegada do trem,
na estação tal, plataforma tal. 
No vagão inglês [wagon]
vem acomodada e tardia, 
a minha cultura. 

Como deve ser a danada?
Deve ser macho...
Deve usar smoking 
e ter os pés descalços.













quinta-feira, 11 de setembro de 2014

os sons do amor

Antes dos sons do amor,houveram os barulhos da simples existência.
Depois, os ouriços,as amendoeiras,as cores,os homens,os alces,as begônias,os bichos-de-pé, as
girafas, os mosquitos,as moscas, as lombrigas e a catarata, em uma grande assembléia que ocorreu entre pausa dos segundos, decidiram que a vida era bem mais do que fluir;mesmo sem saber com exatidão o que era de fato vida.
Se procriaram aos montes a fim de procurar em todos os cantos,no âmago das coisas, o som que move os milagres.
Descobriram.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

o Rei Acaso.

O acaso fez papai gostar da cachaça e mamãe gostar de café.
O acaso me fez nascer no Vale do Paraíba,na borda do rio.
O mesmo acaso que fez papai gostar de cachaça e mamãe gostar de café
que  me fez nascer na borda do rio,
fez deus espirrar
fez o mosquito picar justamente teu joelho
fez aviões caírem
fez os terremotos no Chile
fez os japoneses morarem no japão
fez o gato Teodoro fugir de casa.


punhado de noite

2:38, para o relógio da cozinha.
é um cobertor para o céu.
é escuro para as meninas.
é festa para as mariposas.
é a pálpebra do sol.
Como cabem coisas em um punhadinho só de noite

É manso.

Bartolomeu é um cachorro bonito, que enxerga mal apesar de ser novo.
Corre por entre as pimenteiras,mordisca as mariposas,late para o que não importa, semeia um
pequeno caos na lavanderia.
É branco e seus olhos enguiçados são azuis,como uma poça d'água que reflete o céu de São Pedro da Aldeia. Lembra um lobo se lobos fossem peixes.
Meu irmão gosta de passar suas horas a brincar com o Bartolomeu, distraído em molecagens, com bolinhas
e gravetos. É manso.
Só por ser manso, já atingiu uma graça.

as primeiras mortes que me lembro.

Então as crianças aprenderam a morrer
No jardim
com suas armas invisíveis
suas espadinhas
seus sons bélicos.

Por horas e horas
morriam e matavam.
A arte da humanidade
a gente aprende cedo
no quintal de casa


domingo, 10 de agosto de 2014

Jorge Amado

Quem já leu Tereza Batista, vai concordar comigo que não há frase mais bonita na literatura nacional que "O casamento embucetou!".
Na voz de Maria Petisco, aquilo ecoa na cabeça da gente feito música boa,e é quase impossível não dizer em voz : graças a deus que embucetou.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Oníricando

Leio,todas as noite antes de dormir, trechos de três livros:
Tereza Batista, Dom Quixote e um outro sobre técnicas de cura orientais.
Não posso nem descrever a loucura dos meus sonhos.

A literatura das moscas

O meu mestre disse que muitas histórias não possuem a consistência para se tornarem bons romances. Vocês precisam construir algo resistente,não estiquem demais o que pode se romper. Profundidade amorzinhos,profundidade!Dizia.
E eu pensando em escrever uma novela cujo foco principal é uma mosca varejeira terrivelmente irritante,envolta de esverdeado-metálico,que sobrevoa o jardim da casa de mamãe. Uma genuína caçadora de carne e bosta. Isto é consistente mestre? Preciso criar um conflito,personagens arrojados, narrativa fluida e prazerosa.
O dia em que  puder escrever sobre uma mosca varejeira pousada na merda, o mestre aposenta.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Jonas

Antes de mais nada é preciso escrever.



  Mesmo jovem e estúpido Jonas sabia que era preciso escrever antes sequer de ajeitar a sua situação com o condomínio e com a Márcia. Ambas complicadas, ou por falta, ou por excesso.
Sentou-se no sofá, resignado com a vida, debruçado sobre as situações. Precisava de uma história, um caso, uma percepção aguçada de algum fato ordinário - os melhores - e assim se inserir no glorioso panteão de homens que, pelo menos uma vez na vida, conseguiram compor alguma coisa,não necessariamente significativa, mas gostosa e sincera. Na verdade, não precisa ser sincera, oras! Desde que seja gostosa,suculenta, como uma viagem de trem, como um pão de canela.
  Pensativo em seu sofá, Jonas dissecava as inutilidades de si. O nome bíblico que lhe caía tão bem, como se fosse apenas seu e do Verdadeiro Jonas, o original, da baleia. Pousou seu olhar sobre os joelhos,magros joelhos de homem urbano, sozinho, do tipo que nunca caminha em parques ou trabalha duramente. Joelhos de tristeza, meu deus,joelhos de inércia,duas colinas mortas. Os cabelos muito pretos,muito desalinhados,muito desnecessários.
  O abajur ao lado ilumina pouco, deixando as luzes da rua entrarem pela janela e serem soberanas em território que não lhes pertence. Abajur submisso, vencido, conquistado.
  Jonas se levanta e em alta voz mental diz que é preciso escrever antes de ajeitar a situação do condomínio e com a Márcia. Começar...uma ideia. Preciso de uma ideia, pois assim vazio não pode ser.  Assim sem nada ninguém pode ser. Para legitimar e justificar a minha miséria, preciso ser ao menos um escritor.
Mas não era.
Jonas precisava resolver o condomínio, a Márcia.
Se vocês vissem a Márcia, me entenderiam.

Jonas, de nome bíblico, de fardo leve, de cabelos pretos, de condomínio e de Márcia. O personagem perfeito para nada.

sábado, 2 de agosto de 2014

Bacharel

Vou lhes dizer...
Para escritora não sirvo muito.
Tão pouco como contadora,
artista plástica, enfermeira ou esteticista.
Sou gente.
Só isso já me toma um tempo danado.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Terê

Tereza é azar.
Apaga o sol com os pés. 
Come lento.
Remenda minhas calças.
Me entedia a vida.

Para depois vir
como uma onda de mar velho
me afogar as horas de sono,
meus sonhozinhos de merda
que sonho  só para Tereza afogar.


Tereza é azar.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Para gostar


Se criança
tivesse entendido
o grande poder dos livros
e a fraqueza dos dias,
teria aprendido a ler
antes
de andar.

terça-feira, 22 de abril de 2014

A vitória [sofrida] da poesia



 mesmo com meus problemas de embriaguez
 com meus vícios de fala e vida,
 com a pele manchada de tristezas ordinárias
 com toda a poeira dos dias
 com os dedos amarelados e os olhos parecendo bocas,
 mesmo assim
 eu ainda sei falar sobre cafuné.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Acróstico

Desperta desse riso
Esconde esses dentes
Brincos da alegria,
Ouro tolíssimo.
Ria pequenino,
A tristeza é teu colar mais bonito.