Sou jovem para ser fatalista.
Mas velha o suficiente para ter os olhos com bolsas.
Passo meus dias em um escritório branco.
Desenhando palavras que não são minhas,
em um idioma estrangeiro.
Meu nome é M.
Me ensinaram tudo errado.
Eu ando torto.
Uso roupas sujas.
Tenho seios pontudos.
Meus dentes são desalinhados.
Meu nome é M.
Não tenho tios, não tenho pais,
não tenho uma boa qualidade de ar.
Minhas mãos tremem ao fazer coisas
de-li-ca
das.
Meu nome é M.
Tenho uma esperança tola
quando vejo as mulheres passando na rua
com seus vestidos, com seu cansaço,
com sua pele castanha
no trem vermelho.
Tenho a sutil sensação
de que ainda não entendi coisa alguma.
A dignidade ainda será revelada,
a alegria será descoberta,
a dança terá outra música,
se eu desvendar o rosto das mulheres
no trem vermelho.